Otoplastia

Quando a cirurgia estética é realizada na infância

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 A orelha tem uma função biológica importante no direccionamento e amplificação das ondas sonoras, bem como uma função no equilíbrio estético geral da face. O seu desenvolvimento é complexo e resulta do equilíbrio de proporções de uma estrutura chamada cartilagem, responsável pela consistência, projecção e forma da orelha. Inicia-se durante a gravidez e completa-se essencialmente durante os 3 primeiros anos de vida. Dos 3 aos 10 anos de idade, existe um ligeiro crescimento, sendo as alterações de forma mínimas. Assim, a correcção das alterações do pavilhão auricular (otoplastia) é muitas vezes realizada em idade pré-escolar, aos 5-6 anos de idade.

Uma das situações mais frequentes que motiva a otoplastia nas crianças e jovens adultos deve-se à alteração do tamanho ou forma das orelhas, que se acompanha de um aspecto mais proeminente, com um ângulo aberto, mais afastada do crâneo. Nestes casos, a situação pode ser unilateral ou bilateral, sendo frequentemente assimétrica.

As consequências sociais do aspecto estético das orelhas descoladas, fazem-se sentir logo na altura em que a criança inicia o percurso escolar. Neste contexto, a criança é muitas vezes alvo de críticas e alcunhas desagradáveis que podem ter um impacto muito negativo na sua auto-estima e desenvolvimento social. Assim, apesar da indicação para otoplastia nestes casos se dever a uma necessidade de correcção de um traço estético, esta é muitas vezes realizada aos 5 anos de idade, antes da criança ser exposta a um ambiente escolar em que a interacção com outras crianças é mais intensa e em que a susceptibilidade a críticas com impacto psicológico negativo é maior.

Existem várias técnicas cirúrgicas para correcção da forma da orelha, sendo importante o cirurgião plástico avaliar qual é o componente da orelha cuja forma ou dimensão se encontram alterados, sendo responsáveis pela projecção aumentada. A cicatriz é frequentemente colocada na região posterior da orelha, sendo praticamente invisível no dia-a-dia. A cartilagem é esculpida e moldada com pontos de sutura que recriam as formas normais da orelha e que corrigem o ângulo de projecção do pavilhão auricular. A cirurgia é normalmente realizada sob anestesia geral ou sedação, de forma a que a criança tenha o mínimo de desconforto durante todo o procedimento. Após a cirurgia, a criança deverá usar uma banda ou ligadura que impeçam a ruptura dos pontos internos utilizados para moldar a cartilagem. Esta banda é normalmente utilizada dia e noite durante cerca de 3 a 4 semanas, até a cartilagem estabelecer uma cicatrização que resista aos traumatismos acidentais da orelha e que permita o estabelecimento do resultado estético definitivo.

O maior desafio da otoplastia é o de recriar uma forma normal, conseguindo obter um ângulo de projecção da orelha que não denuncie a existência de uma intervenção cirúrgica. Por outro lado, as circunvoluções da cartilagem deverão ser meticulosamente trabalhadas de forma a não criar quebras ou ângulos artificiais, muito difíceis de corrigir posteriormente.

Um bom resultado é normalmente conseguido com uma técnica cuidada por parte do cirurgião plástico, após uma avaliação correcta das alterações de desenvolvimento da cartilagem responsáveis pela deformidade da orelha. Quando realizada com sucesso, a otoplastia é um exemplo de como um procedimento de correcção estética, pode ter um impacto benéfico fundamental para o desenvolvimento do indivíduo, seja na idade adulta ou, como neste caso, na própria infância.

Porto, 30 Maio 2017