Cancro de Pele

Prevenir e detectar precocemente

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O Verão terminou. Exemplos de um passeio à beira mar sem chapéu nem protecção solar, uma tarde na praia que termina numa noite mal dormida por causa de um “escaldão” estival ou uma corrida em pelo pico solar, não serão estranhos a cada um de nós. A verdade é que estes momentos, por muito agradáveis que possam ser (e alguns são-no efectivamente), comportam um risco cumulativo aumentado para o desenvolvimento de qualquer tipo de cancro de pele, muitas vezes décadas após a queimadura solar ter ocorrido.

Sendo o tipo de cancro mais frequente em Portugal, o cancro de pele reúne um conjunto de várias doenças com características clínicas e prognósticos muito diferentes entre si. Por ordem decrescente de frequência, existe o carcinoma basocelular, o carcinoma espinocelular e o melanoma. Como causa principal, transversal a todos estes tipos de cancro, encontra-se a exposição exagerada ou inadequada aos raios UV, sendo a prevenção e a detecção precoce as formas mais eficazes de os evitar e tratar.

Actualmente, estima-se que, a cada ano, cerca de 12000 novos casos de cancro de pele são diagnosticados no nosso país, 1000 dos quais são melanomas. Estes números traduzem uma realidade que transforma o cancro de pele num importante problema de saúde pública. No entanto, continuam a encontrar-se na prática clínica vários exemplos deste tipo de cancro, diagnosticados numa fase demasiado tardia para possibilitar um tratamento que não deixe sequelas estéticas importantes ou, pior ainda, que não permita a cura completa da doença com o tratamento cirúrgico. Estou certo que este facto se deve à falta de informação relativamente às condutas de prevenção (especialmente relativas aos cuidados gerais a ter aquando da exposição ao sol), bem como ao diagnóstico tardio das lesões.

É importante que todos possuam um conhecimento básico das características de cada um destes tipos de lesões, de forma a possibilitar a sua detecção precoce.

O carcinoma basocelular surge normalmente como uma mancha, nódulo ou pequena úlcera vascularizada, que por vezes pode sangrar. Frequentemente aparenta mesmo regredir de tamanho e tem um crescimento indolente, o que faz com que os doentes demorem demasiado tempo a procurar o médico.

O carcinoma espinocelular é caracterizado como uma escama recorrente, ou nódulo que frequentemente ganha ferida e que não cicatriza. Tem a sua origem frequentemente em lesões pré-malignas chamadas queratoses actínicas.

O melanoma, apesar de representar apenas 1% de todos os cancros de pele, é o responsável pela maior taxa de mortalidade. Apresenta-se em 1/3 dos casos como um sinal recente, normalmente muito escuro ou eventualmente róseo, com crescimento activo, diferente dos outros sinais. Nos restantes casos, surge a partir de um nevo atípico que sofreu alterações como Assimetria, Bordo irregular, Côr heterogénea, Diâmetro superior a 5mm - estas alterações podem ser memorizadas através da mnemónica ABCD e tidas em conta quando vigiamos os sinais da nossa pele.

Recomendo fortemente a leitura das informações do site da Associação de Cancro Cutâneo (http://www.apcancrocutaneo.pt/). Escrevo na esperança de que o diagnóstico destas lesões seja mais precoce e que os casos exuberantes encontrados na consulta de qualquer cirurgião plástico tendam a diminuir e não a aumentar, como tem sido o caso nos últimos anos. O diagnóstico atempado da lesão é muitas vezes a garantia da possibilidade de tratamento cirúrgico completo e eficaz, com a excisão total da lesão. Escrevo ainda com a esperança de que a prevenção seja entendida como a melhor forma de evitar o aparecimento daquele que ainda (e cada vez mais) é o tipo de cancro mais comum no nosso país.
 

Porto, 18 Setembro 2017