Congresso da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica Estética 2018

As novas tendências da cirurgia plástica

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O congresso anual da ASAPS (American Society for Aesthetic Plastic Surgery) teve, este ano, lugar em Nova Iorque. É um encontro importante para perceber quais as tendências mundiais no âmbito da cirurgia plástica, na sua vertente estética, permitindo reconhecer quais são as técnicas cirúrgicas com futuro, quais as que se tornam obsoletas ou esquecidas; quais os produtos e soluções que a indústria apresenta como sendo os mais inovadores.

Ao nível da cirurgia da face, assistimos a um aumento da procura dos liftings faciais, apesar da existência de opções não cirúrgicas como a toxina botulínica e os fillers. Parece sensato caminharmos para uma escala de tratamentos possíveis, cada um com indicações precisas e resultados expectáveis diferentes, desenhado especificamente para cada paciente. Apesar disso, alguns cirurgiões manifestaram reservas quanto à utilização de produtos mais agressivos como o kybella Ⓡ e os fios tensores na face, ou quanto à utilização de ultrassons e radiofrequência para rejuvenescimento facial. Segundo estes, os resultados cirúrgicos, nos pacientes que se submeteram previamente a estes tratamentos, poderão ficar comprometidos. A presença de maior fibrose e a distorção da normal arquitectura dos tecidos poderão produzir deformidades difíceis de resolver, mesmo com cirurgia. Estes instrumentos parecem ser ferramentas importantes, mas o potencial para complicações e sequelas futuras deverá obrigar a uma criteriosa selecção de pacientes e a uma aplicação por cirurgiões plásticos treinados.

Um tema particularmente sensível foi o do tratamento do pescoço e da linha mandibular, com novas opções cirúrgicas a serem desenvolvidas de forma a criar uma linha de mandíbula bem definida e um ângulo cervico-facial rejuvenescido. A utilização de enxertos de gordura na face é uma prática crescente e já bem estabelecida, sendo muitas vezes referida em conjunto com o lifting facial. A rinoplastia e a cirurgia de rejuvenescimento palpebral partilham a mesma tendência, tendo merecido discussões científicas e cursos vários ao longo de todo o congresso.

A cirurgia da mama, pela sua frequência em todo o mundo, foi um dos temas mais discutidos. Foram abordadas as várias técnicas de mamoplastia de aumento e de mastopexia com implantes. É, no entanto, patente a falta de experiência do mercado americano relativamente ao europeu, no que toca à utilização da extensa paleta de implantes mamários disponíveis mundialmente. Nos Estados Unidos, os implantes utilizados são, na sua maioria, de silicone ou de soro, redondos e lisos. Estes implantes estão, por vezes, associados a complicações mecânicas e de posicionamento. A análise destes resultados indesejados e das suas formas de resolução e correcção cirúrgica, foram amplamente abordados. Foi ainda criado um painel de discussão sobre o tema do ALCL (linfoma anaplástico de células grandes) em doentes submetidas a mamoplastia de aumento, que tem sido atentamente seguido e estudado nos últimos anos. Foram apresentadas taxas de incidência e tipos de manifestações possíveis. As recomendações actuais apresentadas preconizam o seguimento anual das pacientes (muitos cirurgiões plásticos já oferecem este tipo de seguimento na sua prática clínica), a esterilização adequada durante todo o procedimento cirúrgico e a pesquisa de marcadores específicos em pacientes que apresentem seroma tardio (aparentemente, um possível sinal inicial da doença). Continua, felizmente, a ser uma entidade raríssima e cujo tratamento implica e termina, na maioria das vezes, com a substituição do implante.

A cirurgia de contorno corporal mereceu, neste congresso, um lugar de franco destaque. Sucessivas palestras, sob a responsabilidade das maiores referências mundiais na área da cirurgia
plástica, tornaram evidente que a utilização dos enxertos de gordura tem permitido resultados superiores nas cirurgias de lipoescultura do corpo. O tecido adiposo parece ser cada vez mais utilizado para lipoenxertos das nádegas e para melhor delimitação dos contornos corporais, assim como para permitir uma maior definição muscular. Novas fronteiras estão a ser estabelecidas no âmbito da lipoescultura, elevando os padrões dos resultados cirúrgicos. Esta é, sem dúvida, uma área de ventos favoráveis no futuro da cirurgia plástica.

A cirurgia dos glúteos, seja através de implantes, seja através de lipoenxertos (ou de ambos), teve direito a várias comunicações científicas, cursos e formações paralelas. Esta atenção demonstra, de uma forma inequívoca, o impacto crescente desta cirurgia nos países do continente americano, com réplicas cada vez mais intensas no continente europeu. A presença de cirurgiões plásticos de países sul-americanos revelou-se fundamental na compreensão das diversas técnicas de gluteoplastia com implantes, sendo estes os países com maior experiência nesta área e com resultados esteticamente superiores. O brazilian butt lift (conceito norte-americano que descreve as técnicas de gluteoplastia em que são utilizados unicamente os enxertos de gordura) foi profusamente abordado. Uma atenção particular foi dada aos riscos de embolia gorda com esta técnica, sendo patente o esforço conjunto para encontrar novas práticas que uniformizem esta cirurgia e que permitam um maior nível de segurança.

Sem surpresas, os temas relativos à importância da cuidada selecção dos pacientes e do ajuste correcto das expectativas destes aos resultados possíveis com a cirurgia, tiveram uma afluência universal no congresso. Num país litigioso como os EUA, todos os esforços são feitos para que os pacientes entendam que a cirurgia plástica oferece melhorias estéticas consideráveis, um aumento inegável na qualidade de vida, mas nunca milagres. De uma forma convergente, muitas das apresentações mostraram os maus resultados a par dos bons. Ficou claro que, mesmo os especialistas mundiais em cada área, se defrontam, por vezes, com situações em que os resultados não acompanham as expectativas, quer por limitações do caso clínico, quer por complicações possíveis numa área em que o resultado final depende de variáveis múltiplas e não de uma equação matemática estanque.

Ainda sem surpresas, a tendência expressa no congresso aponta para a realização de cirurgias com o menor tempo de internamento possível, idealmente em regime de ambulatório e que permitam aos pacientes regressar à sua vida normal, no menor espaço de tempo possível.

Estes encontros são barómetros importantes que nos permitem avaliar de onde podem vir as tempestades e para onde apontam os ventos alísios das novas técnicas e tendências. Permite comprovar que Portugal está a par do que melhor se faz em todo o mundo e que, nesta como noutras áreas, o potencial nacional de crescimento e de afirmação é superior. Resta desfazer as malas, melhorar o que houver a melhorar e inovar, com base na melhor formação académica e científica, sem nunca pararmos de aprender.

Porto, 4 Maio 2018