Decisões

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Os últimos meses foram particularmente importantes no meu percurso profissional. A decisão de me dedicar exclusivamente à minha clínica, aliada à viagem até ao outro lado do Atlântico para trazer para Portugal uma técnica considerada como a vanguarda na área da lipoaspiração (a 4HD Lipo ou Lipoescultura de Alta Definição - Total Definer), são marcos claros num percurso dedicado à arte de restaurar e transformar as formas do corpo, numa história de amor entre a anatomia e a beleza.

Deixam-se para trás outras áreas (não sem custo elevado), com a única certeza que o tempo não dá para tudo e que a excelência exige uma dedicação total.

Neste contexto, já de volta a Portugal e ao ofício manual do bloco operatório, dou por mim a ler uma opinião da Jane Fonda sobre a cirurgia plástica. Sendo um raro exemplo bem sucedido dentro do espectro de estrelas (de)cadentes de Hollywood submetidas a cirurgias plásticas, espantou-me a sua afirmação de que lamenta ter de ter sido submetida a cirurgia para se sentir bem com ela própria, dizendo: “I wish I was braver. But I am what I am”. Cara Jane, desculpa-se a pressão de ter de se justificar publicamente sobre um assunto como este. No entanto, falta-lhe a clarividência de perceber que a opção pela cirurgia plástica não é uma fragilidade ou uma falta de coragem. Pelo contrário, admiro a coragem que as minhas pacientes demonstram em serem firmes nas suas decisões e vontades e em assumirem o desejo e a felicidade por se reverem ao espelho em formas que não são menos suas por terem sido operadas. Pelo contrário, a maioria delas sente que a forma lhes foi finalmente devolvida e que tal dissociação existia antes e não depois da cirurgia. Ter de pedir desculpa pelo direito de se amar a si próprio como se quer, é, para mim, o mesmo que Modigliani pedir desculpa por pintar pescoços esguios nos seus retratos ou por Miguel Ângelo ter passado 4 anos a pintar um tecto numa capela do Vaticano. A vida não depende de nenhum desses factores, é certo. Mas viver infeliz e refém de um corpo que não reconhecemos nem amamos, não é inspirador, não é corajoso, não é admirável.

Não peço desculpa por ser admirador de formas, por ser sensível a tudo o que é bonito e harmonioso. Certamente não peço desculpa por tentar rodear-me de arte e daquilo que me inspira. Esta dedicação, Jane, é o que me define. As horas no bloco operatório, preocupado com milímetros de cicatrizes e com a criação de formas anatómicas de proporções equilibradas, são o meu trabalho e paixão. Custam-me tempo e saúde. Afastam-me daqueles que amo, muitas vezes, quando chego demasiado tarde ou demasiado cansado a casa. Não vejo ausência de valor em mudar a vida dos outros para melhor. E, cara Jane, não há nada mais corajoso do que defendermos aquilo em que realmente acreditamos.

[ Portrait of Jeanne Hebuterne in a large hat, 1918 ]

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Porto, 23 Setembro 2018