Quando deverão ser substituídos os implantes mamários?
Uma história dos 50 anos de evolução dos implantes de silicone
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Quando deverão ser substituídos os implantes mamários?
Uma história dos 50 anos de evolução dos implantes de silicone
Uma das perguntas mais frequentes durante a primeira consulta de uma mamoplastia de aumento é a necessidade de substituição dos implantes mamários no futuro. De facto, gerações iniciais de implantes mamários apresentavam taxas de ruptura espontânea que se aproximavam dos 50% aos 10 anos de pós-operatório. Tal estatística justificava (e ainda justifica nesses casos), a substituição dos implantes ou, no mínimo, a sua vigilância regular para verificar a integridade dos mesmos.
Esta história começa em1962, quando Cronin e Gerow criaram o primeiro implante de silicone, com revestimento sintético e efectuaram uma mamoplastia de aumento a Timmie Jean Lindsey, na altura com 29 anos de idade. Tentativas anteriores de utilizar diferentes materiais, desde injecções de parafina à introdução de silicone líquido, resultaram numa alta taxa de complicações e em resultados estéticos desastrosos.
Na década de 70, criou-se a segunda geração de implantes, com gel de silicone de preenchimento mais fluido e com revestimento mais fino, com o objectivo de um resultado mais natural ao toque. No entanto, a taxa de ruptura destes implantes era elevadíssima, assim como o extravasamento do gel de silicone, razão pela qual, na década de 80, surgiu a terceira geração de implantes. Estas próteses foram construídas com uma camada externa de silicone mais espessa, à qual se seguia uma barreira que envolvia um gel de silicone mais coesivo e que limitava o seu extravasamento para os tecidos circundantes.
Apesar das possíveis complicações com estes tipos de implantes, o número de pacientes submetidas a mamoplastia de aumento durante as décadas de 70 e 80 não parou de aumentar, dados os resultados estéticos obtidos e a falta de informação consistente relativa ao seguimento dos implantes.
A década de 90 foi uma altura importante na história da mamoplastia de aumento. As complicações registadas como a contratura capsular, a ruptura de implante e o extravasamento de silicone criaram uma preocupação legítima na comunidade científica e na população em geral, relativamente à segurança oncológica e sistémica deste tipo de implantes mamários. Esta preocupação teve um impacto tal que, nos Estados Unidos da América, a utilização de implantes de silicone em mamoplastia de aumento foi proibida pela FDA, por falta de estudos científicos que provassem a segurança destes dispositivos. Na Europa e nos países sul americanos, no entanto, os implantes continuaram a ser utilizados e novas gerações de implantes foram desenvolvidas. É curioso pensar que a experiência com implantes mamários de silicone nos EUA só voltou a existir quando, em 2006, a FDA voltou a aprovar a utilização destes dispositivos na mamoplastia de aumento. Esta aprovação foi conseguida devido a uma quantidade significativa de estudos que demonstraram que a utilização de implantes de silicone não se associa a doenças sistémicas ou ao cancro da mama. No entanto, foram reconhecidas complicações como contratura capsular, ruptura, mau posicionamento e rotação de implante. Não sendo frequentes, estas complicações levaram ao desenvolvimento de tipos de revestimento de implante e construção do seu núcleo de silicone que se associassem a um menor risco de complicações e a um melhor resultado estético.
A quarta geração de implantes surgiu no início dos anos 90, com a introdução do revestimento texturizado, que visava diminuir a taxa de contratura capsular e o mau posicionamento do implante, através de um revestimento que diminuía a mobilidade do implante. A quinta geração de implantes, criada nos finais dos anos 90, introduziu o conceito de gel altamente coesivo, criando um núcleo que mantinha a sua consistência, mesmo na eventualidade da ruptura do revestimento, evitando igualmente o extravasamento de silicone. Os implantes de quinta geração, tipicamente, apresentam taxas de ruptura de cerca de 1-2% aos 6 a 8 anos, tornando a utilização actualmente mais segura relativamente à longevidade destes implantes. No entanto, é aconselhável a realização de ecografia mamária ao terceiro ano após a cirurgia e de dois em dois anos a partir dessa altura. É ainda aconselhável a substituição de implantes prévios aos de quinta geração, visto apresentarem taxas de ruptura importantes e um gel de silicone que poderá extravasar para o tecido mamário circundante. Em alternativa, a vigilância anual por ecografia ou ressonância magnética pode igualmente ser aconselhada.
É curioso perceber que, apesar de ser um dispositivo largamente utilizado em todo o mundo, a tecnologia dos implantes actuais é baseada em conceitos com 20 anos de existência. No entanto, na última década têm surgido estudos cada vez mais rigorosos no sentido de encontrar o revestimento de implante mais adequado e que produza o mínimo de complicações, garantindo a longevidade dos resultados. É, sem dúvida, matéria para reflexão séria de quem se submete a esta cirurgia e dos cirurgiões plásticos que a praticam. O revestimento de poliuretano, com várias décadas de existência e sucessivos refinamentos quanto à espessura e formas de adesão ao núcleo de silicone, é uma história de sucesso na prevenção de complicações e na estabilidade de mama obtida. No entanto, não existem implantes perfeitos e a biocompatibilidade estudada em novos revestimentos de silicone tem permitido obter taxas de contratura capsular bastante baixas, revelando-se uma excelente opção em pacientes em quem a estabilidade da mama e a qualidade da pele permitem a utilização de um implante com um textura mais biocompatível, sem compromisso do resultado estético a longo prazo.
É com profundo interesse que tenho acompanhado esta evolução. Nesta história, não há resultados definitivos. O implante perfeito ainda estará por criar e, provavelmente, poderá variar de acordo com a qualidade de pele da paciente, a consistência da sua mama e o resultado pretendido. Cada implante deverá resistir à prova do tempo e o estímulo de marketing existente entre empresas concorrentes irá obrigar a investigação científica que fundamente a selecção do implante mais adequado a cada paciente. Este caminho irá ser benéfico, em igual medida, para cirurgiões e pacientes, garantindo os melhores resultados aliados aos menores riscos.
Uma história dos 50 anos de evolução dos implantes de silicone
Uma das perguntas mais frequentes durante a primeira consulta de uma mamoplastia de aumento é a necessidade de substituição dos implantes mamários no futuro. De facto, gerações iniciais de implantes mamários apresentavam taxas de ruptura espontânea que se aproximavam dos 50% aos 10 anos de pós-operatório. Tal estatística justificava (e ainda justifica nesses casos), a substituição dos implantes ou, no mínimo, a sua vigilância regular para verificar a integridade dos mesmos.
Esta história começa em1962, quando Cronin e Gerow criaram o primeiro implante de silicone, com revestimento sintético e efectuaram uma mamoplastia de aumento a Timmie Jean Lindsey, na altura com 29 anos de idade. Tentativas anteriores de utilizar diferentes materiais, desde injecções de parafina à introdução de silicone líquido, resultaram numa alta taxa de complicações e em resultados estéticos desastrosos.
Na década de 70, criou-se a segunda geração de implantes, com gel de silicone de preenchimento mais fluido e com revestimento mais fino, com o objectivo de um resultado mais natural ao toque. No entanto, a taxa de ruptura destes implantes era elevadíssima, assim como o extravasamento do gel de silicone, razão pela qual, na década de 80, surgiu a terceira geração de implantes. Estas próteses foram construídas com uma camada externa de silicone mais espessa, à qual se seguia uma barreira que envolvia um gel de silicone mais coesivo e que limitava o seu extravasamento para os tecidos circundantes.
Apesar das possíveis complicações com estes tipos de implantes, o número de pacientes submetidas a mamoplastia de aumento durante as décadas de 70 e 80 não parou de aumentar, dados os resultados estéticos obtidos e a falta de informação consistente relativa ao seguimento dos implantes.
A década de 90 foi uma altura importante na história da mamoplastia de aumento. As complicações registadas como a contratura capsular, a ruptura de implante e o extravasamento de silicone criaram uma preocupação legítima na comunidade científica e na população em geral, relativamente à segurança oncológica e sistémica deste tipo de implantes mamários. Esta preocupação teve um impacto tal que, nos Estados Unidos da América, a utilização de implantes de silicone em mamoplastia de aumento foi proibida pela FDA, por falta de estudos científicos que provassem a segurança destes dispositivos. Na Europa e nos países sul americanos, no entanto, os implantes continuaram a ser utilizados e novas gerações de implantes foram desenvolvidas. É curioso pensar que a experiência com implantes mamários de silicone nos EUA só voltou a existir quando, em 2006, a FDA voltou a aprovar a utilização destes dispositivos na mamoplastia de aumento. Esta aprovação foi conseguida devido a uma quantidade significativa de estudos que demonstraram que a utilização de implantes de silicone não se associa a doenças sistémicas ou ao cancro da mama. No entanto, foram reconhecidas complicações como contratura capsular, ruptura, mau posicionamento e rotação de implante. Não sendo frequentes, estas complicações levaram ao desenvolvimento de tipos de revestimento de implante e construção do seu núcleo de silicone que se associassem a um menor risco de complicações e a um melhor resultado estético.
A quarta geração de implantes surgiu no início dos anos 90, com a introdução do revestimento texturizado, que visava diminuir a taxa de contratura capsular e o mau posicionamento do implante, através de um revestimento que diminuía a mobilidade do implante. A quinta geração de implantes, criada nos finais dos anos 90, introduziu o conceito de gel altamente coesivo, criando um núcleo que mantinha a sua consistência, mesmo na eventualidade da ruptura do revestimento, evitando igualmente o extravasamento de silicone. Os implantes de quinta geração, tipicamente, apresentam taxas de ruptura de cerca de 1-2% aos 6 a 8 anos, tornando a utilização actualmente mais segura relativamente à longevidade destes implantes. No entanto, é aconselhável a realização de ecografia mamária ao terceiro ano após a cirurgia e de dois em dois anos a partir dessa altura. É ainda aconselhável a substituição de implantes prévios aos de quinta geração, visto apresentarem taxas de ruptura importantes e um gel de silicone que poderá extravasar para o tecido mamário circundante. Em alternativa, a vigilância anual por ecografia ou ressonância magnética pode igualmente ser aconselhada.
É curioso perceber que, apesar de ser um dispositivo largamente utilizado em todo o mundo, a tecnologia dos implantes actuais é baseada em conceitos com 20 anos de existência. No entanto, na última década têm surgido estudos cada vez mais rigorosos no sentido de encontrar o revestimento de implante mais adequado e que produza o mínimo de complicações, garantindo a longevidade dos resultados. É, sem dúvida, matéria para reflexão séria de quem se submete a esta cirurgia e dos cirurgiões plásticos que a praticam. O revestimento de poliuretano, com várias décadas de existência e sucessivos refinamentos quanto à espessura e formas de adesão ao núcleo de silicone, é uma história de sucesso na prevenção de complicações e na estabilidade de mama obtida. No entanto, não existem implantes perfeitos e a biocompatibilidade estudada em novos revestimentos de silicone tem permitido obter taxas de contratura capsular bastante baixas, revelando-se uma excelente opção em pacientes em quem a estabilidade da mama e a qualidade da pele permitem a utilização de um implante com um textura mais biocompatível, sem compromisso do resultado estético a longo prazo.
É com profundo interesse que tenho acompanhado esta evolução. Nesta história, não há resultados definitivos. O implante perfeito ainda estará por criar e, provavelmente, poderá variar de acordo com a qualidade de pele da paciente, a consistência da sua mama e o resultado pretendido. Cada implante deverá resistir à prova do tempo e o estímulo de marketing existente entre empresas concorrentes irá obrigar a investigação científica que fundamente a selecção do implante mais adequado a cada paciente. Este caminho irá ser benéfico, em igual medida, para cirurgiões e pacientes, garantindo os melhores resultados aliados aos menores riscos.
Porto, 30 Março 2018